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Entre o Medo e a Esperança: A Jornada de Clara

Foto do escritor: Rosimeri MebsRosimeri Mebs

Atualizado: 10 de fev.

Clara sempre teve dificuldade em acreditar que era merecedora de uma vida boa. Desde pequena, sua relação com o afeto foi confusa e marcada por instabilidade. Sua mãe, ora carinhosa, ora distante e fria, nunca lhe deu a segurança necessária para confiar nos laços que criava. Seu pai, ausente, só reforçava a sensação de abandono que a acompanhava como uma sombra.

Agora, com 24 anos, Clara se vê presa em um ciclo de pensamentos que a impedem de desfrutar os pequenos momentos de felicidade. Sempre que algo positivo acontece, sua mente automaticamente a alerta: "Isso não vai durar." Algo ruim está para acontecer." Esse medo constante de que a vida a punirá por momentos de alegria faz com que ela se afaste das pessoas, evite criar vínculos e se sabote profissionalmente.

Em seu trabalho como designer, suas ideias brilhantes nunca chegam a ser apresentadas, pois ela teme que não sejam boas o suficiente. Nos relacionamentos, ela se entrega a relações que reforçam sua crença de que não é digna de amor. E, quando um sentimento genuíno de felicidade surge, ela o descarta rapidamente, acreditando que é apenas uma ilusão passageira.

Foi durante uma sessão de terapia que Clara ouviu pela primeira vez sobre o transtorno do apego desorganizado. Sua terapeuta explicou como essa insegurança emocional, enraizada em experiências de infância, moldava sua forma de se relacionar com o mundo. "Você não está condenada a viver assim para sempre, Clara." A maneira como aprendeu a enxergar o amor e a segurança pode ser ressignificada. Mas isso exige paciência, prática e, acima de tudo, autocompaixão."

Clara queria acreditar nessas palavras, mas sentia que era tarde demais para mudar. Ainda assim, naquela noite, ao olhar para o céu pela janela de seu apartamento, ela se permitiu por um segundo imaginar um futuro onde pudesse, enfim, se sentir segura e feliz. Era um pensamento distante, mas, pela primeira vez, não pareceu completamente impossível.


Jovem estudando
Jovem estudando

O Transtorno do Apego Desorganizado

O transtorno do apego desorganizado ocorre quando a criança cresce em um ambiente onde as figuras de apego são simultaneamente fontes de conforto e medo. Isso geralmente acontece em lares marcados por negligência, abuso ou instabilidade emocional dos cuidadores. Como resultado, a criança desenvolve padrões de apego confusos, oscilando entre a necessidade de proximidade e o medo da rejeição.

Na vida adulta, essa desorganização se manifesta em dificuldades para estabelecer e manter relações saudáveis. Pessoas com esse transtorno podem ter medo da intimidade, mas ao mesmo tempo anseiam por conexão. O sentimento de não merecimento e a expectativa constante de que algo ruim acontecerá são comuns. Isso pode levar a comportamentos autossabotadores, como evitar relacionamentos ou permanecer em dinâmicas tóxicas que reforçam suas crenças negativas sobre si mesmas.

O tratamento do transtorno do apego desorganizado envolve, principalmente, a psicoterapia. Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajudam a identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais, promovendo um novo entendimento sobre o próprio valor e a forma de se relacionar com os outros. O desenvolvimento da autocompaixão e o fortalecimento de vínculos saudáveis são passos fundamentais nesse processo.

Clara queria acreditar nessas palavras, mas sentia que era tarde demais para mudar. Ainda assim, naquela noite, ao olhar para o céu pela janela de seu apartamento, ela se permitiu por um segundo imaginar um futuro onde pudesse, enfim, se sentir segura e feliz. Era um pensamento distante, mas, pela primeira vez, não pareceu completamente impossível.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem se mostrado uma abordagem eficaz para o tratamento do medo, ajudando as pessoas a reestruturarem seus pensamentos e enfrentarem gradualmente suas preocupações. Um dos recursos mais inovadores dentro desse contexto é o uso da Realidade Virtual (RV). A RV permite que o paciente seja exposto a situações que despertam medo de maneira controlada e segura, favorecendo a dessensibilização e a reestruturação cognitiva.

Usando a Realidade Virtual

Por meio da Realidade Virtual, é possível simular ambientes específicos, como alturas para quem tem medo de lugares altos, aviões para quem tem medo de voar ou até mesmo interações sociais para quem sofre de ansiedade social. Essa tecnologia possibilita que a exposição seja ajustada conforme a necessidade do paciente, permitindo um enfrentamento gradual e progressivo. Além disso, a RV reduz as barreiras logísticas e emocionais que muitas vezes dificultam a exposição no mundo real, tornando o tratamento mais acessível e eficaz.

Na jornada de Clara, entre o medo e a esperança, a Realidade Virtual pode representar uma ferramenta valiosa. Com a utilização dessa tecnologia, Clara poderia ser gradualmente exposta aos seus receios em um ambiente seguro e controlado, ajudando-a a desenvolver novas habilidades para lidar com suas inseguranças. Dessa forma, a RV poderia ser uma ponte entre suas dificuldades e a construção de um caminho mais seguro e confiante rumo à esperança.

Dessa forma, o uso da Realidade Virtual na psicoterapia potencializa os resultados do tratamento, acelerando o processo de superação dos medos e promovendo maior autonomia e segurança para os pacientes. Combinada com a TCC, essa tecnologia representa um avanço significativo no cuidado com a saúde mental, oferecendo novas possibilidades para enfrentar e superar o medo de forma inovadora e eficaz.



Referências

  • Bowlby, J. (1988). A Secure Base: Parent-Child Attachment and Healthy Human Development. New York: Basic Books.

  • Cassidy, J., & Shaver, P. R. (Eds.). (2016). Handbook of Attachment: Theory, Research, and Clinical Applications. Guilford Publications.

  • Liotti, G. (2004). Trauma, Dissociation, and Disorganized Attachment: Three Strands of a Single Braid. Psychotherapy: Theory, Research, Practice, Training, 41(4), 472–486.

  • Main, M., & Solomon, J. (1990). Procedures for Identifying Infants as Disorganized/Disoriented during the Ainsworth Strange Situation. In M. T. Greenberg, D. Cicchetti, & E. M. Cummings (Eds.), Attachment in the Preschool Years: Theory, Research, and Intervention (pp. 121–160). Chicago: University of Chicago Press.

 
 
 

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